O nome de Altamir Mauro de Oliveira Dias (foto de abertura/ Magnus Torquato) pode passar despercebido até mesmo para quem acompanha de perto o esporte a motor brasileiro. Mas quando ele é chamado de Mestre Maurão, logo vem à memória o sorriso largo do personagem bonachão, um profissional carismático que foi importante na vida pessoal e carreira de diversos pilotos, fazendo o papel de técnico, professor, amigo e muitas vezes até de segundo pai. Foi assim com Ayrton Senna, Tony Kanaan, Luciano Burti, Ruben Carrapatoso, Gastão Fráguas Filho, André Ribeiro, Cacá Bueno, Thiago Camilo, Sergio Jimenez e Gaetano Di Mauro – só para citar alguns entre os mais de 200 pilotos forjados por seus ensinamentos e, também, pela disciplina imposta pelo tarimbado formador de pilotos.
No início de setembro, no Velocitta, o preparador e chefe de equipe de kart, hoje com 64 anos, recebeu uma placa das mãos de Fernando Julianelli, CEO da Vicar, pelo conjunto da obra no automobilismo. A trajetória, iniciada em 1964 e eternizada pela Mauro Competições, hoje conta mais de duas mil vitórias no Brasil e exterior. O preparador não escondeu a satisfação com a homenagem:
“Passaram pela minha equipe mais de 200 pilotos, e muitos deles estão até hoje ganhando corridas com os ensinamentos que pude passar”, disse Maurão. “Sou muito grato a todos eles, que fazem parte da trajetória nesses muitos anos de trabalho. E, claro, estou muito feliz e emocionado pela homenagem que essa turma fez aqui. Obrigado a todos por este momento incrível que me deram”.
Heroísmo e dramas pessoais – Maurão visitou seus pupilos no Velocitta durante etapas da Stock Car e do BRB Fórmula 4 Brasil. Cacá, Fráguas, Carrapatoso, Jimenez, Camilo, Di Mauro e Kanaan se reuniram para homenagear o mestre. E contaram muitas histórias, algumas de heroísmo, outras hilárias e também dramas pessoais que Maurão ajudou a superar.
Um dos casos mais difíceis foi o enfrentado pelo hoje consagrado Tony Kanaan. Campeão da Indy em 2004, vencedor das 500 Milhas de Indianápolis em 2013 e atualmente piloto da Full Time Bassani na Stock Car, Tony revelou um momento marcante vivido ao lado do preparador.
“Maurão foi o cara que me iniciou e acompanhou no kartismo de 1985 a 1990. Ganhamos muitos campeonatos juntos. Ele me ensinou tudo, me deu muita bronca, mas tudo valeu a pena… É meu segundo pai”, diz Kanaan, que prossegue: “Maurão estava comigo no dia que meu pai morreu, quando eu tinha 13 anos. Minha carreira ia acabar ali. Mas ele me levou para dormir na sua casa e naquele fim de semana nós tivemos uma corrida. Corremos e vencemos. Esse é o Maurão. Muito mais que uma relação de piloto e preparador, ele é parte da minha família.”
Também se referem a Maurão como segundo pai Gaetano Di Mauro e Ruben Carrapatoso, campeão mundial de kart em 1998. “O Maurão foi meu grande professor, coach e segundo pai. Ele participou muito da minha vida, não apenas como técnico”, explicou Carrapatoso, hoje engenheiro da KTF Sports na Stock Car e na F4 Brasil.
“Foi a base de tudo” – Pentacampeão da Stock Car, Cacá Bueno foi campeão paulista de kart com Mauro: “Ele me ensinou a ter fibra, a não desistir nunca. Esse início foi a base de todo o resto. Devo demais a ele”. Thiago Camilo também reforçou o papel do chefe de equipe como um formador de caráter. “Maurão foi meu professor não só nas pistas, mas no comportamento, também. Então ele tem um papel muito relevante na minha carreira e, também, na minha construção como ser humano”.
Atualmente chefe do projeto da F-4 no Brasil, Gastão Fráguas Filho é outro campeão mundial de kart que teve o talento lapidado pelo preparador e chefe de equipe. “Tive a sorte de cair nas mãos dele e devo muito a essa oportunidade que o Maurão me deu”, diz o vencedor do Mundial de 2005. “E a história fala por si: ele formou diversos campeões. Comecei com a pessoa certa, que me ensinou tanto o lado técnico como questões humanas. Com ele eu me desenvolvi como piloto e pessoa”.
Sergio Jimenez salientou a trajetória ao lado de Maurão e os ensinamentos do preparador para a vida toda. “Aprendi com ele a importância da disciplina: trabalhar, correr atrás, não desistir, ter foco no seu objetivo. Foi muito importante para a minha vida ter esse ensinamento”.
Di Mauro destaca o lado parceiro do preparador: “No momento em que mais precisei, quando não tinha patrocínio para correr, ele sempre me estendeu a mão e me levava para treinar. Isso não dá pra esquecer. Trago comigo muito do que aprendi naquela época. Ele me formou como piloto. Obrigado por tudo, Maurão.”
Texto: Rodolpho Siqueira/Fernando Silva